domingo, 2 de setembro de 2007


espetáculo solo baseado em histórias de garotas de programa


Este espetáculo nasce de um desejo muito forte de pesquisar o corpo feminino e as diversas formas de lidar com suas vontades, medos, toques, dores e prazeres. O foco principal do trabalho voltou-se para a questão da sexualidade e do erotismo, pois isto traz discussões e ações de grande complexidade sobre as várias maneiras de lidar com toda a gama de sensações e sentimentos que estes temas provocam e se traduzem no corpo.
Diante disso, a pesquisa de campo se deu através do encontro com mulheres que têm como objeto de trabalho o seu próprio corpo e que têm, portanto, uma maneira que é ao mesmo tempo, complexa e simples, contraditória e objetiva, de olhar para a sexualidade e o erotismo. E, uma pergunta que me instigava era:
Como o feminino é visto por estas mulheres? Qual é a visão que elas possuem de sua feminilidade? Como se vêem enquanto mulher?
Fui pesquisar então, o Jardim Itatinga, uma zona de prostituição da cidade de Campinas. Não sabia como seriam as reações das mulheres e, tampouco, qual a melhor maneira de iniciar uma troca com elas.
Resolvi dizer, simplesmente, que era artistas e que estava pensando em fazer um espetáculo sobre a sexualidade da mulher e que, por isso, era importantíssimo ouvir o que tinham a dizer.
Durante o ano de 2005, várias visitas foram realizadas ao Bairro Itatinga e, com isso, conversei com diversas garotas, de diferentes idades, algumas permitiram que a conversa fosse gravada, outras não.
Construi, com algumas delas, laços afetivos muito fortes através das histórias que ouvia e que por vezes, contava.
E, foram as sensações e pensamentos, os gestos, as danças e as músicas destes encontros o material em que foi baseada todas as improvisações e construções de cena do espetáculo.
Durante a criação das cenas, através deste grande mergulho dentro do universo das mulheres que vivem da prostituição, me deparei com muitas questões e com diversos preconceitos, não só com relação a essas mulheres, mas também de todas as mulheres com a sua sexualidade, seu corpo, seu papel na sociedade e da falta de sentido e significado das ações da mulher em sua vida pessoal, profissional, política.
Percebi uma falta de reflexão das próprias mulheres diante do seu potencial criativo e expressivo, dos papéis que ocupa e de sua verdadeira ação e interferência na construção da sua própria história.
Este espetáculo busca, de uma forma poética, comunicar as descobertas e tudo o que foi vivido através da convivência com as garotas durante a pesquisa de campo.
Deseja compartilhar ardentemente com todas as mulheres, a importância de se descobrir, refletir e vivenciar a feminilidade e torce para que este assunto ocupe um espaço merecido, não só dentro da esfera particular da vida de cada um de nós, mas também que ocupe um espaço que seja acolhido e refletido por
toda a sociedade.

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